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Marli Márcia da Silva, 56 anos, é fundadora da Associação Pernambucana de Mães Solteiras. Sua luta ajuda a transformar as vidas de milhares de mães, pais e filhos
“Eu nunca pensei em ser mãe. Não tinha essa vontade. Mas me envolvi com um homem, e ele me cobrava um filho. Em menos de um ano, engravidei. E, assim que meu filho nasceu, ele foi embora. Disse que não me queria mais, que meu filho tinha uma grande mãe e que eu me virasse”, conta.
De uma hora para a outra, Marli Márcia da Silva, na época com 30 anos, se viu perdida, sem saber o que fazer. Com o filho recém-nascido, foi expulsa de onde morava. Não tinha casa, nem trabalho, nem o que comer. “Naquela época, o preconceito era muito grande com as mães solteiras. Tudo era bastante difícil. Meu filho nasceu em agosto e, em novembro, eu já estava atrás de outras mulheres, na comunidade, para formar alguma coisa, para que ninguém passasse pelo o que eu passei”.
Ao se organizarem em grupo, essas mulheres perceberam que a maioria delas não tinha os nomes dos pais nos registros dos filhos. “Nenhuma mulher queria que o pai registrasse. Mãe solteira, quando é abandonada, fica magoada. Então a gente não quer nome, nem ajuda, nem confiança. Mas o reconhecimento da paternidade não é direito nosso, é direito dos nossos filhos”, conta.
Marli, no dia em que estava indo para a maternidade ter seu filho. (Foto: Divulgação / Acervo pessoal)
Apemas
Foi a partir disso que, em 1991, surgiu a Associação Pernambucana de Mães Solteiras (Apemas), da qual Marli é líder e fundadora. Com o apoio de psicólogas e assistentes sociais, o grupo de mães começou a entrar com pedidos de reconhecimento de paternidade na Defensoria Pública do Estado. Mas, por falta de provas, os processos eram arquivados.
Assim começaram as reuniões da Apemas com representantes da Câmara Municipal de Recife e da Assembleia Legislativa, para lutar pela gratuidade do exame de DNA. “Na época, cada exame custava mais de R$ 3 mil. Nós fomos o primeiro grupo a conseguir a gratuidade no exame no estado de Pernambuco”.
De lá para cá, nesses quase 30 anos de atividades, a associação coleciona uma série de conquistas, como as mais de 50 mil paternidades reconhecidas até hoje. Tudo, lógico, com muita força, trabalho em rede e parceria. Com o apoio do Fundo Brasil, realizou as campanhas de reconhecimento de paternidade “Ele é meu pai – reconheça esse direito” e “Seja um pai legal – reconheça”, e conquistou, em 2011, a gratuidade da averbação da paternidade nos cartórios brasileiros.
“Em 2016 veio o apoio do Fundo Brasil para o projeto de reconhecimento de paternidade nos presídios. A OAB também apoiou e levamos os cartórios até eles”, explica. Ela conta que as mães achavam que se registrassem os filhos como mães solteiras, nunca mais poderiam colocar o nome do pai no documento. Por isso, decidiam esperar os pais cumprirem a pena para, depois, tirar a certidão de nascimento dos filhos
“Essas crianças chegavam a três, quatro anos de idade sem registro algum. Então, elas não tinham acesso a benefícios, não podiam ir para a creche, não tinham direito a nada. Tem casos em que pai e mãe estão presos. Se não fosse a gente pegar assinaturas e levar no cartório, ninguém faria isso”.
Segundo Marli, que atualmente cursa o 7º semestre de Direito, os apoios do Fundo Brasil permitiram que a Apemas crescesse, auxiliando no trabalho em rede. “O Fundo Brasil nos deu capacitação e respeito. E transformou bastante as vidas das mães, filhos e dos pais de Pernambuco.”
Marli participou do Encontro de Projetos 2016, realizado pelo Fundo Brasil. (Foto: Ronny Santos/Fundo Brasil)
Mulheres em luta
Sensível e persistente, Marli se enxerga em cada uma das mães solteiras que conhece. E fala sobre o comportamento delas na luta pela garantia de seus direitos e dos direitos de suas famílias: “As mulheres são maravilhosas e acolhedoras. Em casa, em tudo o que podem. Quando você ajuda uma mulher, você ajuda, no mínimo, cinco pessoas. Porque, tudo o que ela faz, ela faz pela família. E quando a vida dela melhora, melhora a vida de toda a família. Essa é a minha luta, para que elas se empoderem mesmo.”
Texto: Larissa Ocampos