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Maternidade: 5 problemas sociais enfrentados por mulheres que são mães

A sociedade ainda hoje impõe majoritariamente às mulheres o papel de cuidadoras – entre esses papéis, a maternidade. Essa mesma sociedade, porém, estabelece condições que tornam a maternidade um processo árduo, sem garantia de redes de apoio nas esferas familiar, econômica e social.

Diante desse cenário complexo, listamos cinco dificuldades que restringem o acesso das mulheres mães e de seus filhos a direitos básicos e, portanto, à cidadania plena.

Acesso ao trabalho formal

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra que apenas 54,6% das mães com idade entre 25 e 49 anos encontram-se ativas no mercado de trabalho formal. Em contrapartida, temos um cenário conflitante, no qual as mulheres que são mães e não têm emprego enfrentam o preconceito e a falta de oportunidades, ressalta a psicanalista e Presidente do Ipefem (Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), Ana Tomazelli.

Dados divulgados em dezembro do ano passado pelo Síntese de Indicadores Sociais 2023 (IBGE), indicam que mais de 2,5 milhões de mulheres não trabalharam formalmente em 2022 porque precisaram prover o cuidado para outras pessoas e se dedicarem aos afazeres domésticos. E já as mães que trabalham precisam lidar com a insegurança e o medo de perderem o emprego, além da falta de acolhimento das empresas e gestores, como aponta a especialista em recursos humanos Sofia Esteves, neste artigo publicado pelo portal Exame.com.

Maternidade e a saída do mercado de trabalho

De acordo com o estudo “As consequências das políticas de licença-maternidade no mercado de trabalho: Evidências do Brasil, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), aproximadamente metade das mulheres que tiraram licença-maternidade deixaram o mercado de trabalho em até dois anos após seu retorno, sendo que a maioria dessas saídas se dá sem justa causa e por iniciativa do empregador. O levantamento também revela que a taxa de saída da força de trabalho tende a ser mais elevada entre mulheres com menor nível de escolaridade. O estudo conclui que a licença-maternidade no Brasil não é eficaz o bastante para manter as mães empregadas, tornando-se um ponto crítico a ser considerado para os formuladores de políticas públicas.

Insegurança alimentar

O artigo Maternidade e a participação feminina no mercado de trabalho, publicado no Blog IBRE FGV, aponta que mulheres provedoras de seus lares enfrentam dificuldades em garantir o sustento da família após a maternidade, principalmente pelo desafio de conciliar a carga horária da jornada de trabalho, tempo de deslocamento entre moradia e serviço e a falta de espaços de cuidado, como creches, para seus filhos.

Segundo informações divulgadas pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar, seis em cada 10 famílias chefiadas por mulheres enfrentam algum tipo de insegurança alimentar, sendo esta mais severa entre as mulheres negras.

 

Mães Solo

A maternidade impõe uma série de dificuldades para as mulheres e, no contexto das mães solo, esses desafios se tornam maiores. De acordo com dados publicados pela FGV em maio de 2023, entre os anos de 2012 e 2022 o número de domicílios com mães solo cresceu 17,8%, passando de 9,6 milhões para 11,3 milhões.

Levantamento realizado, na mesma época, pelo Instituto Datafolha, indica que 55% das mães no Brasil vivem uma maternidade solo. E apesar de uma parte delas morarem com parceiros, isso não garante divisão do trabalho de cuidado: as responsabilidades são totalmente administradas pela mulher, o que pode elevar os níveis de estresse, afetando a saúde física e mental dessa mulher.

Além disso, a psicóloga e autora do livro “Vença a síndrome do degrau quebrado”, Monique Stony, afirma que as mães solo têm o desafio diário de lidar com os olhares julgadores de uma sociedade que não oferece rede de apoio, o que compromete também a saúde emocional. Esse fator reforça a problemática de quanto a sociedade não tem letramento sobre o papel do pai, que não entende a função e nem a exerce como deveria, deixando os cuidados e responsabilidades com filhos totalmente para as mulheres.

Acesso à educação sexual e contraceptivos

Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (ONU), as mulheres, principalmente as adolescentes em situação de vulnerabilidade social, têm dificuldade para acessarem os métodos de contracepção e planejamento familiar. O Ministério da Saúde apontou que diariamente no Brasil nascem cerca de mil bebês filhos de mães abaixo dos 19 anos e o país registra uma taxa de 43,1 nascimentos para cada mil mães nessa faixa de idade.

A maternidade na adolescência causa prejuízos importantes para essas mulheres que podem ter suas vidas afetadas pela falta de apoio na criação dos filhos, o que pode levar ao abandono escolar, falta de renda, dependência financeira, insegurança alimentar e outras questões que envolvem saúde. De acordo com o Datafolha, as chances de uma mulher sem filhos concluir o ensino superior é 112% maior do que as mulheres que têm filhos pequenos. E não concluir os estudos reflete diretamente no futuro profissional da mulher.

Apesar de ser considerada um tabu na sociedade, inserir educação sexual na grade de ensino das escolas minimizaria os efeitos causados por uma gravidez na adolescência. O contrário do que a grande maioria pensa, esse tipo de medida evitaria o alto índice de violência e abuso sexual e proporcionaria consciência e responsabilidade para os jovens, já que anualmente são mais de 20 mil meninas com menos de 15 anos sendo mães.

O Fundo Brasil de Direitos Humanos apoia a luta pela garantia de direitos básicos e cidadania para todas as mulheres brasileiras. Por meio da doação de recursos a grupos, coletivos e organizações de base que trabalham para mudar a realidade de seus territórios e comunidades, o Fundo Brasil fortalece mulheres periféricas, indígenas, negras, cis e trans.

Participe da luta por uma sociedade mais justa e inclusiva. Acesse o link e faça a sua doação!

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