
Público presente acompanha painel realizado, promovido pelo Fundo Raízes e Fundo Casa Socioambiental, durante a COP 30. Foto: Sofia Hage – Ventos Do Norte.
“Falando de uma forma otimista, se a gente trabalhar juntos, em colaboração, a gente consegue dar conta.” Ana Valéria Araújo, diretora executiva do Fundo Brasil de Direitos Humanos, compartilhou a reflexão durante o painel Arranjos colaborativos para aterrar o financiamento climático nos territórios, realizado na sexta-feira, 14 de novembro, em Belém. O evento compôs a programação d’A Casa Sul Global, um espaço paralelo à COP 30 voltado a discutir fluxos de financiamento filantrópico para o Sul Global.
Promovido pelo Raízes – Fundo de Justiça Climática para Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, iniciativa do Fundo Brasil, em parceria com o Fundo Casa Socioambiental, o painel reuniu representantes de fundos locais, territoriais e da filantropia corporativa para discutir como a colaboração pode ampliar recursos e fortalecer comunidades e territórios para a luta por justiça climática.
A conversa foi mediada por Cristina Orpheo, do Fundo Casa. Ana Valéria Araújo, apresentou a experiência da Aliança entre Fundos, uma coalizão formada na pandemia para buscar construir mecanismos que apoiassem a sobrevivência das organizações indígenas e de comunidades tradicionais de base. Atualmente, a Aliança é formada pelos Fundos Brasil, Casa, Positivo e Elas+.
Ana Valéria reforçou que fundos enraizados no Brasil acumulam experiência em destinar recursos de forma desburocratizada e têm uma rede de relações e confianç valiosa para fazer esses recursos chegarem efetivamente aos territórios onde soluções climáticas são criadas e desenvolvidas todos os dias.
“Alianças nos ajudam a estar presentes em espaços onde a gente não chegaria”, refletiu Alda Salomão, do Fundo Tindzila, de Moçambique, que integra a Alianza Socioambiental Fondos del Sur. “Sei que parceiros da América Latina falarão por África e vice-versa.”
Geórgia Nicolau, diretora-executiva do Instituto Procomum, levou ao debate a experiência da Aliança Territorial, composta por 7 organizações marcadas por uma atuação enraizada em territórios específicos, sendo esta uma identidade central, mas não exclusiva. Ela descreveu processos de construção conjunta de agenda e mecanismos de participação que materializam uma governança compartilhada com as comunidades. Segundo Geórgia, essa abordagem, hoje presente em mais de 400 municípios, depende da construção de confiança entendida como prática social e política, permanentemente em formação.
A Aliança Territorial é formada por Casa Fluminense, Funbea (Fundo Brasileiro de Educação Ambiental), Instituto Baixada, Icom, Instituto Procomum, Redes da Maré e Tabôa.
Articuladora da Alliance for the Amazon and Beyond, Grace Iara Souza relatou a criação de um Pooled Fund com 11 financiadores internacionais. Ao adotar um único formulário e um único processo de apoio, esse arranjo desburocratiza a destinação de recursos para os territórios. “Precisamos evitar a reprodução das dinâmicas coloniais que nos trouxeram até aqui”, disse.
Natália Cerri, do Instituto Itaúsa, trouxe reflexões sobre o papel da filantropia corporativa, no processo de fortalecimento dos territórios para que soluções climáticas locais possam ganhar visibilidade e escala. Ela lembrou que a filantropia corporativa brasileira ainda doa pouco e que operar projetos próprios nem sempre é o caminho mais eficiente. A parceria com o Fundo Brasil em iniciativas voltadas à bioeconomia indígena trouxe aprendizados sobre como esse tema se insere na economia e por que interessa ao setor privado. Em uma COP marcada por alta participação de empresas, Natália apontou que a crise climática impacta todos os negócios e exige engajamento real.
Encerrando o painel, Cristina Orpheo destacou um traço comum aos fundos do Sul Global: relações sustentadas pela construção de vínculos e pela prática colaborativa. Ao longo da conversa, ficou evidente que alianças, quando feitas com responsabilidade e respeito ao território, produzem resultados que nenhum ator conseguiria alcançar isoladamente.
“Não é só sobre ser bonito colaborar. Colaborar é bonito, sim, mas é sobre resultados no território, que são reais, mudam vidas”, concluiu Geórgia Nicolau.




























