O Fundo Brasil de Direitos Humanos anuncia nesta quarta-feira (8) o resultado do edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base 2025, que vai destinar R$1 milhão a até 20 grupos, coletivos e organizações lideradas por pessoas negras em diferentes regiões do país.
O apoio tem como objetivo fortalecer iniciativas de base que atuam na promoção da justiça racial e na defesa de direitos humanos, reconhecendo o protagonismo das lideranças negras na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Cada projeto selecionado receberá até R$50 mil em recursos de natureza flexível. O que significa que poderão ser utilizados da forma que o grupo considerar mais adequada para garantir a sustentabilidade de suas ações.
O edital recebeu 678 inscrições. Foram recomendados projetos de diferentes regiões do país, abrangendo uma ampla diversidade de temas ligados ao enfrentamento do racismo. Entre as iniciativas aprovadas, destacam-se ações voltadas à valorização das religiões de matriz africana, direitos das populações quilombolas e tradicionais, direitos das mulheres negras, juventudes negras, segurança pública e justiça criminal, saúde e bem-estar da população negra e justiça climática e ambiental.
Os projetos contemplam organizações de todas as regiões do Brasil, do Acre ao Rio Grande do Sul, evidenciando a pluralidade territorial e temática da luta contra o racismo no país. “Esse diálogo com a sociedade civil é o que garante que o Fundo Brasil continue atuando com coerência, escuta e compromisso, apoiando quem está no território e faz a transformação acontecer todos os dias”, explica Ana Valéria Araújo, diretora executiva do Fundo Brasil.
Esta é a quinta edição do edital voltado exclusivamente para o enfrentamento ao racismo, reafirmando o compromisso do Fundo Brasil com a ampliação do acesso a recursos e com o fortalecimento de iniciativas negras em todo o território nacional.
“O Enfrentamento ao Racismo a partir da base é um edital determinante de quem somos enquanto organização. O enfrentamento ao racismo está no DNA do Fundo Brasil”, afirma Ana Valéria Araújo. “O comitê de seleção tem um papel essencial nesse processo. São pessoas que conhecem profundamente as realidades locais e nos ajudam a identificar o que é mais estratégico neste momento, quais são as pautas mais urgentes e relevantes para fortalecer a luta antirracista em todo o país”.
Veja as organizações selecionadas:
Organização | Estado | Região |
Casa Ndengo | DF | Centro-Oeste |
Associação Araxá | MT | Centro-Oeste |
Associação dos Produtores Rurais Quilombolas do Povoado Palmeira dos Negros e Região – APROOPAR | AL | Nordeste |
Instituto da Memória Brasil Solo Ancestral | BA | Nordeste |
Associação Comunitária dos Trabalhadores Remanescentes do Quilombo de Boa Vista e Poço Comprido | BA | Nordeste |
Instituto Cultural Folclórico Religioso e Beneficiente Nossa Senhora da Vitória | MA | Nordeste |
Ayira Sizernando Liberato | PB | Nordeste |
Pilao de Ouro | PE | Nordeste |
Associação de Prostitutas do Piauí | PI | Nordeste |
Kilombo – Organização Negra do Rio Grande do Norte | RN | Nordeste |
Associação de Mulheres Negras do Acre e seus Apoiadores | AC | Norte |
Coletivo Jikitaia | AM | Norte |
Coletivo de Mulheres Negras Sankofa | PA | Norte |
Ponto de Cultura Terreiro de Umbanda Maria Quitéria e Zé Pelintra | PA | Norte |
Associação Comunitária dos Quilombolas de Graúna | ES | Sudeste |
Yle Oxum Mitalade é Ogum D`Kere | SP | Sudeste |
Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro | RJ | Sudeste |
Confluência Socioambiental Afrodescendente | PR | Sul |
Instituto Caminho – Raça e Acesso à Justiça | RS | Sul |
Instituto Terra Preta | SC | Sul |
Racismo estrutural e desafios persistentes
O comitê de seleção do edital Enfrentando o Racismo a Partir da Base 2025 reuniu profissionais com ampla experiência na defesa dos direitos da população negra e no fortalecimento de organizações comunitárias. Com representantes de diferentes regiões do país, o grupo trouxe análises especializadas sobre justiça racial, inclusão social e promoção da equidade, garantindo que a escolha dos projetos selecionados refletisse diversidade, relevância territorial e impacto concreto no enfrentamento ao racismo no Brasil.
São eles e elas: Tainá Silva, responsável pela relatoria de projetos nas áreas de segurança pública, justiça criminal e garantia de direitos, direitos das mulheres negras e valorização das religiões de matriz africana. Atua com incidência política e fortalecimento de coletivos de juventude e gênero; Jorge Serejo, que coordenou a relatoria de propostas voltadas a direitos das populações quilombolas e tradicionais, juventudes negras e justiça climática e ambiental; Nina Fola, que conduziu a análise de projetos ligados à valorização das religiões de matriz africana e aos direitos das mulheres negras, com foco na resistência cultural e no fortalecimento institucional de povos de terreiro; Raimundo Magno, relator de iniciativas nas áreas de direitos quilombolas, autonomia territorial e saúde e bem-estar da população negra. Atua em processos de formação política e no apoio a comunidades tradicionais.
O edital parte do reconhecimento de que o racismo segue como um dos principais fatores de violação de direitos no Brasil. Dados de 2023 mostram que 87,8% das vítimas de intervenções policiais em nove estados brasileiros eram negras, evidenciando a seletividade racial do sistema de justiça.
As comunidades quilombolas, por sua vez, continuam a enfrentar falta de titulação de terras, negação de direitos básicos e racismo ambiental, enquanto religiões de matriz africana seguem sendo alvo de agressões e preconceitos. Segundo o Fórum Nacional de Defesa do Direito à Liberdade Religiosa, mais de 60% das denúncias de intolerância religiosa no país envolvem seus praticantes.
Diante dessa realidade, o Fundo Brasil reforça que o fortalecimento de grupos que atuam diretamente nas comunidades é essencial para construir respostas concretas à desigualdade racial e à violência.