O Fundo Brasil divulga nesta terça-feira (24) o resultado do Edital Geral 2025 Democracia e Direitos: Construindo o Futuro com Justiça e Igualdade.
Foram selecionados 20 projetos de defesa de direitos humanos, de todas as regiões do país, dos quais 14 serão apoiados pelo Fundo Brasil pela primeira vez. Nesta edição, serão destinados até R$50 mil para cada projeto, totalizando um investimento de R$1 milhão.
Os recursos são de natureza flexível, o que significa que poderão ser usados da forma que os grupos proponentes considerarem mais estratégica para a sua sustentabilidade, para a garantia da defesa de direitos e no combate às violações.
“O Edital Geral tem dois grandes objetivos: fortalecer institucionalmente as organizações de defesa de direitos humanos, abrangendo as mais diversas lutas, e apoiar projetos de ação direta na defesa de direitos, no formato que a gente costuma chamar de ‘clássico’, como ações de advocacy, formação e outras estratégias que temos acompanhado ao longo de mais de 30 anos de trajetória democrática no país”, explica Alexandre Pachêco, assessor de projetos do Fundo Brasil.
Neste ano, o edital geral presta homenagem à ativista Margarida Genevois, referência histórica na defesa dos direitos humanos no Brasil.
Há 19 anos em atividade, o Edital Geral é o mais abrangente apoio promovido pelo Fundo Brasil. Por meio dele, a fundação apoia uma diversidade de temas relacionados aos direitos humanos e mantém um acompanhamento permanente das demandas e prioridades que surgem nas bases populares, a partir do contato direto com os projetos de todo o país.
“Esta seleção coloca o olhar do Fundo Brasil para temas que a gente ainda não tenha conseguido fazer apoios específicos, para conseguir chegar com recursos a locais e temas que a gente ainda não tenha apoiado. Isso expressa o espírito do Fundo Brasil: estar ao lado das lutas, escutar as bases e revelar o que tantas vezes fica invisível”, diz Ana Valéria Araújo, diretora executiva do Fundo Brasil.
Todos os projetos selecionados receberão e-mails da equipe do Fundo Brasil nos próximos dias.
Veja a lista dos selecionados:
Organização | Estado | Região |
Centro Espírita São Jeronimo (Nzo Kia Angurusemavulu) | DF | Centro-Oeste |
Grupo de Mulheres Negras Malungas | GO | Centro-Oeste |
Casa Ndengo | DF | Centro-Oeste |
Cooperativa Mista dos Assentamentos de Reforma Agrária da Região Tocantina (COOMARA) | MA | Nordeste |
Etinerâncias | BA | Nordeste |
Associação Comunitária dos Povos Ciganos do Condado Paraíba – ASCOCIC | PB | Nordeste |
Associação Baiana de Travestis, Transexuais e Transgêneros em Ação – Atração | BA | Nordeste |
Pacová – Articulação de Cooperação do Campo à Cidade | BA | Nordeste |
Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba | PB | Nordeste |
Coletivo Sargento Perifa | PE | Nordeste |
Instituto Territórios e Justiça – INTERJUS | RO | Norte |
Associação das Mulheres Mãe Venina do Quilombo do Curiaú | AP | Norte |
Rede de Comunicadores Indígenas do Acre | AC | Norte |
Conselho Indígena da Terra Cobra Grande – COINTECOG | PA | Norte |
Instituto Hounsou de Integração África Amazonia – HAFAMA, | PA | Norte |
Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração | SP | Sudeste |
Agência Diadorim | SP | Sudeste |
Estrela Guia | SC | Sul |
Coletivo Construindo um Novo Brasil | PR | Sul |
Fórum Ong Aids RS | RS | Sul |
Como foi a seleção
O Edital Geral 2025: Democracia e Direitos: Construindo o Futuro com Justiça e Igualdade recebeu 878 propostas.
No recorte por temas, a maioria dos projetos inscritos era de organizações LGBT, seguidas por aquelas ligadas à população negra, terra e território, direitos das mulheres, povos indígenas, direito à cidade e direito à participação.
Finalizado o período de inscrição, a equipe do Fundo Brasil faz uma triagem inicial dos projetos para analisar a adequação de cada proposta ao escopo do edital.
Na sequência, os projetos foram apresentados ao Comitê de Seleção externo. A metodologia de seleção dos editais do Fundo Brasil valoriza a experiência de ativistas com atuação destacada nas áreas temáticas apoiadas, convidando-os a compor o Comitê de Seleção.
Neste ano, o comitê de seleção foi formado por oito integrantes:
- Cristiane Ribeiro, psicóloga, candomblecista do Manzo Ngunzo Kaiango, mestre em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência (UFMG);
- Elis Regina Duarte Gomes, bacharela em Ciências Contábeis, com pós em Gestão de Projetos. É presidenta da UNEGRO-RS e milita há mais de 35 anos no movimento negro;
- Uvanderson Silva, sociólogo, integrou a equipe Rio Doce do Fundo Brasil de Direitos Humanos como coordenador de programa até 2022;
- Antônio Neto, historiador, mestre em Políticas Públicas em Direitos Humanos (UFRJ) e pesquisador da Justiça Global;
- Maria Clara Araújo, Foi pesquisadora do Programa Saberes (2024) da Rede Comuá e atua como Coordenadora de Parcerias com Movimentos do Black Feminist Fund;
- Eduardo Henrique de Lima Guimarães, historiador, ativista com mais de 30 anos de atuação em defesa dos direitos LGBTQIAPN+ e dos direitos humanos;
- Paulo Pankararu, mestre em Direito Econômico e Social pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR), Curitiba/PR. Pós-Graduação sobre Povos Indígenas, Direitos Humanos e Cooperação Internacional pela Universidade Carlos III de Madri, Espanha, tendo realizado estudos sobre gestão territorial indígena;
- Sara Pereira, amazônida de origem ribeirinha, mestra em Ciências da Sociedade, educadora Popular e coordenadora da FASE Amazônia.
A diversidade foi um dos pilares para a seleção das propostas. Para Maria Clara Araújo, “houve um olhar mais intencional para alcançar uma diversidade regional e apoiar organizações que nunca tinham sido contempladas antes. Sabemos que há um desfinanciamento crônico no setor, então cada escolha foi muito cuidadosa”.
O sociólogo Uvanderson Silva reforçou a importância do edital como instrumento para fortalecer quem está na linha de frente da luta por direitos: “Ficou muito claro que as organizações compreenderam que é possível combinar atividades com desenvolvimento institucional. Este edital qualificou ainda mais o debate sobre fortalecimento das organizações.”
Cristiane Ribeiro participou pela primeira vez do comitê e destacou o quanto o edital é fundamental para chegar a causas e lugares tão diversificados: “Me emocionei muito, principalmente ao ver projetos de povos tradicionais, como o povo cigano, que busca fortalecer sua identidade e resistir às violências históricas. São temas que não recebem o olhar e atenção da sociedade”.
Elis Regina Gomes também destacou que o processo trouxe aprendizados potentes: “Ao mesmo tempo em que olhamos para o país real, vimos o quanto é necessário apoiar o planejamento estratégico dessas organizações, que resistem mesmo sem estrutura.”
O Comitê de Seleção indica os projetos a serem apoiados. No entanto, a aprovação final é da Diretoria Executiva do Fundo Brasil.
Diversidade de causas, vozes e territórios
A pluralidade marcou as escolhas. As organizações selecionadas atuam em frentes como: direitos das mulheres, especialmente mulheres negras, cis e trans; direitos da população LGBTQIA+; defesa de povos indígenas, quilombolas, ciganos e de comunidades tradicionais; enfrentamento ao racismo, à violência, à mineração predatória e às mudanças climáticas; direito à cidade, à participação, à segurança alimentar e à proteção social.
Para Paulo Pankararu, a participação foi também uma experiência de transformação pessoal. “Saio desse processo impactado. A gente amplia o nosso conhecimento sobre diferentes pautas, diferentes temas. É um grande aprendizado e sabemos que estamos colaborando com a democracia do país. Cada reunião foi uma oportunidade para expansão da minha própria atuação”.
O resultado reflete a aposta do Fundo Brasil em um país onde a democracia se constrói com a força da diversidade, da coletividade e da resistência.