O Fundo Brasil de Direitos Humanos anuncia, nesta quarta-feira (12) as propostas selecionadas para receber apoio no âmbito do edital Segurança Integral de Defensoras/es de Direitos Humanos 2025.
A chamada pública tem como objetivo apoiar prioritariamente organizações que atuam na linha de frente da defesa de Direitos Humanos e que estejam em condição de ameaça e risco à segurança de sua equipe, garantindo um ambiente saudável e seguro para sua atuação.
Serão apoiados 21 grupos, organizações e coletivos, com o valor de até R$60.000,00 cada, totalizando R$1.260.000,00 em doações.
O processo seletivo deste ciclo registrou um marco histórico na participação, recebendo um total de 347 propostas, o que representa um aumento de 112,9% em relação às 163 propostas de 2023.
Durante a abertura da reunião do comitê de seleção, a diretora executiva Ana Valéria Araújo destacou a importância do processo coletivo e criterioso que sustenta o edital.
“O comitê de seleção é formado por pessoas com trajetórias diversas e profundo conhecimento dos territórios, o que dá legitimidade e sensibilidade ao processo. Isso faz toda a diferença na hora de escolher quem apoiar e entender quem mais precisa ser apoiado”, afirmou. “São muitas organizações sob risco, e o desafio é grande: escolher dentro dos limites de recursos quem mais precisa desse apoio”.
A diretora adjunta Allyne Andrade reforçou o sentido estratégico do edital no contexto atual de defesa dos direitos humanos. “Garantir a segurança integral de quem defende direitos é parte essencial do fortalecimento da democracia. Não se trata apenas de apoio financeiro, mas de criar condições reais para que essas pessoas e organizações possam continuar atuando”, disse. “Esses apoios permitem que organizações ameaçadas sigam atuando, com estrutura, cuidado e proteção”.
Veja as organizações selecionadas:
| GRUPO/COLETIVO/ORGANIZAÇÃO | ESTADO | REGIÃO |
| Coletivo de Comunicação Popular Tapajós de Fato | PA | Norte |
| Coletivo Revoada de Ilha Grande Cupijó | PA | Norte |
| Conselho Ribeirinho | PA | Norte |
| Encamto – Entidade Casas da Mulher no Tocantins | TO | Norte |
| Grupo Ambiental Povo Do Cocar | AM | Norte |
| Movimento Xingu Vivo para Sempre | PA | Norte |
| Associação de Desenvolvimento do Jacaré Curituba – ADJC | SE | Nordeste |
| Associação de Pescadores, Marisqueiras e Moradores da Comunidade Quilombola do Buri & Adjacências | BA | Nordeste |
| Associação dos Moradores, Agricultores e Pescadores de Poxim da Praia – AMAPPP | BA | Nordeste |
| Comitê de Defesa dos Direitos dos Povos Quilombolas de Santa Rita e Itapecuru Mirim | MA | Nordeste |
| Instituto Negra do Ceará – INC | CE | Nordeste |
| Laboratório Brasileiro de Cultura Digital – LabHacker | AL | Nordeste |
| Cerrado Assessoria Popular | GO | Centro-Oeste |
| Coletivo Mulheres do Hip Hop MT | MT | Centro-Oeste |
| Coletivo VTrans | SP | Sudeste |
| Ile Ase Omo Oya | RJ | Sudeste |
| Instituto Luz do Faroeste | SP | Sudeste |
| Maré 0800 | RJ | Sudeste |
| Desterro – Observatório de Violência de Florianópolis | SC | Sul |
| EMAT – Associação Empodera At,axa | RS | Sul |
| Instituto Caminho – Raça e Acesso à Justiça | RS | Sul |
Prioridade ao Risco Extremo
A dimensão do risco foi um dos elementos mais considerados nos debates do Comitê de Seleção. A análise do ciclo 2025 demonstrou que as organizações selecionadas estão profundamente expostas a ameaças, com 57,1% delas atuando em contexto de risco alto ou extremo: 33,3% estão em risco alto, enquanto 23,8% estão em risco muito alto/extremo.
As propostas selecionadas abordam as quatro dimensões de segurança integral (física, psicossocial, digital e organizacional), buscando garantir a proteção de quem defende os direitos no Brasil.
O resultado da seleção também indica a importância da atuação em territórios vulneráveis e junto a populações tradicionais. A temática Quilombola recebeu o maior número de apoios, representando 19% das recomendações. Outras pautas prioritárias incluem: Povos Indígenas, Ribeirinhos, Enfrentamento ao Racismo e Direito à livre orientação sexual e identidade de gênero.
Perspectivas do comitê de seleção
A escolha das 21 organizações foi conduzida por um comitê composto por: Francimara Carneiro, assistente Social, assessora de Desenvolvimento Institucional do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente – CEDECA Ceará; Suzany Brasil, assessora jurídica popular, integrante da Terra de Direitos, Santarém/PA; Alex Possamai, advogado popular em Rondônia, presidente do INTERJUS; Antônio Neto, representante do Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH).
O comitê independente trouxe perspectivas regionais e temáticas distintas, mas com um propósito em comum: fortalecer quem está em maior vulnerabilidade.
As análises apontaram uma tendência de expansão da violência e da criminalização de lideranças comunitárias, quilombolas, indígenas e comunicadores populares, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, mas também em áreas urbanas marcadas por conflitos fundiários e repressão policial.
Para Francimara Carneiro, a experiência foi intensa e desafiadora. “Foram muitos projetos potentes, que revelam situações emblemáticas de risco. Foi uma tarefa difícil, até penosa, porque são realidades muito duras. Mas conseguimos construir um retrato do Brasil, considerando as ameaças, as regionalidades e a diversidade do nosso povo”, afirmou.
O advogado popular Alex Possamai ressaltou que a dimensão do risco foi um dos eixos centrais da análise. “Mais da metade das organizações selecionadas vive contextos extremos de ameaça. O edital busca justamente garantir que, quem atua na linha de frente da defesa de direitos, tenha condições de seguir com segurança, sem ser silenciado.”
Já a jurista Suzany Brasil destacou o caráter diverso das organizações apoiadas. “O resultado reflete o compromisso do Fundo Brasil em apoiar quem mais precisa. Há comunicadores, quilombolas, povos indígenas, mulheres negras, população LGBTQIA+, todos enfrentando riscos altíssimos e todos precisam ser protegidos”.
Suzany também destacou que, entre os selecionados, há coletivos que trabalham com segurança digital, saúde mental e protocolos comunitários de proteção, sinalizando uma construção mais ampla e coletiva da segurança integral.
Para Antônio Neto, o processo de seleção também revelou o cenário atual de ameaças. “O campo da defesa de direitos continua sendo alvo de criminalização e violência. Apoiar essas iniciativas é uma forma concreta de garantir que a democracia seja exercida por todas e todos”, concluiu.
Nos próximos dias, o Fundo Brasil de Direitos Humanos entrará em contato com as organizações selecionadas para dar início ao processo de análise da documentação. A formalização da contratação e o recebimento efetivo dos recursos estão condicionados à entrega completa e correta da documentação exigida nesta fase, sendo confirmada após análise e aprovação da equipe responsável.




























