Com o objetivo de debater o empoderamento econômico da mulher negra, o Geledés – Instituto da Mulher Negra promoveu, na última segunda-feira (28), o diálogo “Empoderamento Econômico das Mulheres Negras – contribuições para o Bem Viver”. O encontro, realizado na sede da organização, reuniu representantes de diversas instituições e marcou o lançamento de uma publicação sobre o tema.
Participaram do diálogo Dayana Souza, Coordenadora Financeira do Labora – Fundo de Apoio ao Trabalho Digno, além de representantes do Ministério do Trabalho e Emprego, da Casa Civil da Presidência da República, da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, da Assessoria Internacional de Geledés, do Fundo Agbara e da Fundação Tide Setúbal.
A iniciativa integrou as mobilizações do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, e as articulações para a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras de 2025 – que acontecerá dia 25 de novembro, em Brasília.
Durante o encontro, foi lançado o livro “População Negra e Trabalho Digno: avanços e continuidades no mercado de trabalho brasileiro” (2025). A obra apresenta um conjunto de recomendações de políticas institucionais para o enfrentamento do racismo e a promoção da participação equitativa das mulheres negras na economia e no mercado de trabalho.
A pesquisa, que deu origem à publicação, analisa as desigualdades raciais no mercado de trabalho brasileiro, propondo uma reflexão crítica sobre as metodologias de coleta e análise de dados, além da necessidade de políticas públicas que fomentem um ciclo econômico virtuoso para a população negra.
A publicação contou com apoio da Laudes Foundation, atualmente gerida pelo Labora – Fundo de Apoio ao Trabalho Digno. Você pode acessar e baixar o e-book no Portal Geledés.

Thalita Lopes, Sueli Carneiro, Suelaine Carneiro e Dayana Souza na sede do Geledés, em São Paulo. Créditos: Mariana Silveira Costa/Acervo Fundo Brasil.

Aline Odara, Dayana Souza, Mariana Almeida e Suelaine Carneiro. Créditos: Grazielle Salgado / Geledés – Instituto da Mulher Negra.

Adriana Sousa, professora doutora em educação pela Universidade de São Paulo e responsável pela elaboração da pesquisa que deu origem à publicação lançada. Créditos: Grazielle Salgado / Geledés – Instituto da Mulher Negra.
Fundos de Investimento para Equidade Racial – desafios e avanços no campo
Ao participar da mesa “Financiamento para autonomia das mulheres negras: avanços e desafios”, Dayana Souza, do Labora, afirmou que a estratégia do Fundo Brasil é fundamentada no fortalecimento de grupos historicamente sub-representados na filantropia. O debate contou também com a participação de Aline Odara (Fundo Agbara) e Mariana Almeida (Fundação Tide Setúbal), sob mediação de Suelaine Carneiro (Geledés).

Dayana Souza, Coordenadora Financeira no Labora – Fundo de Apoio ao Trabalho Digno. Créditos: Grazielle Salgado / Geledés – Instituto da Mulher Negra.
Segundo Dayana, o princípio do Labora é levar recursos “na ponta, junto a trabalhadoras e trabalhadores de base, grupos e coletivos mesmo que não formalizados e uniões de trabalhadores que ainda estão em processo de estruturação interna.”. Ela destacou os resultados práticos dessa abordagem: “Entre 2023 e maio de 2025, o Labora doou R$ 23,5 milhões para 112 organizações, muitas lideradas por mulheres negras. De forma concreta, já destinamos R$ 779 mil para sindicatos e associações de trabalhadoras domésticas, além de R$ 250 mil em apoio a organizações que lutam por trabalho digno para as costureiras.”*
Aline Odara, Fundadora e Diretora Executiva do Fundo Agbara — o primeiro fundo filantrópico para mulheres negras do Brasil —, ressalta a disparidade estrutural no acesso a recursos por organizações lideradas por mulheres negras. Segundo ela, o cenário exige uma ação direta para promover a equidade. “Os recursos da filantropia são muito concentrados. Uma pesquisa do Black Feminist Fund revela que menos de 1% do recurso da filantropia e investimento social privado mundial é destinado a organizações de mulheres negras.”
Partindo do pressuposto de que “organizações de mulheres negras estão sempre no centro das lutas, mas às margens dos recursos”, o Agbara conduziu uma pesquisa com mais de 800 organizações negras. O levantamento revelou que 80% de suas lideranças são mulheres e que essas entidades sobrevivem com um orçamento anual inferior a 5 mil reais. “Por isso nosso papel é tensionar essa realidade. Entendemos que o Agbara chegou muito rápido em um lugar onde poucas organizações alcançam por conta do racismo estrutural, o que nos traz um senso de responsabilidade muito grande.”
Com um olhar sobre a formação de novas lideranças, Mariana Almeida, Diretora Executiva da Fundação Tide Setubal, destaca o desafio na captação de recursos para iniciativas como o Edital Traços – um programa voltado ao fortalecimento de profissionais negros em espaços de poder.
Segundo ela, a dificuldade reside em métricas de investimento que não apreendem as complexidades subjetivas da realidade das pessoas. Mariana aponta para a necessidade de uma mudança de paradigma no campo filantrópico e privado: “O financiamento voltado para a autonomia não tem estrutura pré-determinada, é preciso dar liberdade e abertura para a reflexão da liderança em formação sobre ‘o que me falta, o que eu gostaria de ter investido em mim que eu não investi’.”
O encontro também contou com a mesa “Mulheres Negras e Trabalho Digno: desafios para a emancipação econômica”, mediada pela Professora Doutora Adriana Tolentino Sousa, com as participações de Anatalina Lourenço (Ministério do Trabalho e Emprego), Carolina Almeida (Geledés), Cecília Bizerra (Casa Civil da Presidência da República), Kenia Cardoso (Fundação Tide Setúbal) e Juliana Gonçalves (Marcha das Mulheres Negras de São Paulo).
Para saber mais sobre os dados e reflexões levantadas durante as mesas, leia a matéria “‘Queremos prosperar’: especialistas apontam caminhos para autonomia econômica de mulheres negras“, escrita por Beatriz de Oliveira para o Portal Geledés.

Suelaine Carneiro, Juliana Gonçalves, Anatalina Lourenço, Adriana Tolentino Sousa, Kenia Cardoso e Cecília Bizerra. Créditos: Mariana Silveira Costa/Acervo Fundo Brasil.
O Geledés – Instituto da Mulher Negra é uma organização da sociedade civil, que se posiciona em defesa de mulheres e negros em razão das desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais, em função do racismo e do sexismo vigente na sociedade brasileira.
*Dados levantados entre 2023 e maio de 2025.