
Ana Valéria Araújo apresenta o Raízes, durante a São Paulo Climate Week. Foto: Mariana Rodrigues/Acervo Fundo Brasil
O Fundo Brasil de Direitos Humanos marcou presença na São Paulo Climate Week, evento voltado à criação e compartilhamento de soluções para um futuro sustentável. Em 2025, foi realizada entre os dias 4 e 9 de agosto.
Ana Valéria Araújo, diretora executiva do Fundo Brasil, participou na terça-feira (5) do painel “Arranjos Inovadores da Filantropia para Enfrentar a Crise Climática”, no Museu das Favelas, no centro histórico de São Paulo. O convite foi feito pela Casa Sul Global. Ela apresentou o trabalho do Raízes – Fundo de Justiça Climática para Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais, iniciativa que destina recursos do financiamento climático para que cheguem à ponta, para organizações que estão na linha de frente dos impactos ambientais.
Os recursos são direcionados a organizações na luta por direitos territoriais e ambientais, por direitos humanos e pela vida no planeta. O Fundo Raízes promove uma filantropia justa, que não impõe soluções, mas apoia o protagonismo dessas comunidades na construção de respostas sustentáveis e inclusivas para a crise climática.
“A gente pratica uma filantropia baseada na confiança nos grupos locais. Entendemos que eles sabem o que estão fazendo, que conhecem as prioridades e que são os melhores desenhadores das suas próprias estratégias e caminhos”, explicou Ana Valéria.
“O apoio direto sempre foi a essência do trabalho do Fundo Brasil”, afirmou. “Essa forma de fazer fortalece o poder de ação de quem está na linha de frente das lutas por direitos, povos indígenas, comunidades tradicionais, populações nas periferias, agricultores familiares e trabalhadores que enfrentam os impactos da crise climática e constroem soluções concretas a partir dos seus próprios saberes, práticas e modos de vida.”
Ana Valéria destacou que a crise climática “é também uma crise de direitos”, o que exige reconhecer e fortalecer quem já cuida dos territórios e biomas, mas segue excluído do financiamento climático global. “O Fundo Brasil, atento às urgências deste nosso tempo e às demandas desses grupos, aporta recursos para quem atua em contextos de maior vulnerabilidade e fortalece quem está lutando por justiça e transformando realidades.”
Desde 2023, o Raízes apoiou mais de 70 grupos e doou R$4 milhões. Foram apoiadas ações voltadas à defesa territorial, gestão ambiental, justiça sanitária e ao avanço da sociobioeconomia, com atenção à equidade racial, étnica e de gênero.
Parcerias para justiça climática
O Raízes recebe apoio do Instituto Itaúsa, também presente no painel representado por Natália Cerri, gerente de projetos da instituição.
Natália destacou a importância da parceria com o Fundo Brasil para fortalecer ações que conectam bioeconomia, justiça climática e direitos das comunidades do Sul Global.
“A parceria com o Fundo Brasil tem sido crucial para viabilizar o apoio direto a comunidades indígenas e tradicionais na construção de uma bioeconomia sustentável. O Fundo garante legitimidade, desc

Bruna Martins, da Rede Cuíra – Jovens Protagonistas dos Manguezais Amazônicos. Foto: Mariana Rodrigues/ Acervo Fundo Brasil
entraliza recursos e fortalece o protagonismo local, ampliando o alcance do trabalho do Instituto Itaúsa”, explicou a gerente de projetos. “Temos aprendido muito com o jeito de fazer do Fundo Brasil.”
Representando a Rede Cuíra – Jovens Protagonistas dos Manguezais Amazônicos, do Pará, a jovem Bruna Martins também participou do painel Arranjos Inovadores da Filantropia para Enfrentar a Crise Climática. A organização é apoiada pelo Raízes.
Ela compartilhou a relevância do apoio recebido para a organização sair do papel e fortalecer a juventude nos manguezais. “Se não fosse o Fundo Brasil, não existiria a Rede de Juventude Organizada nos Manguezais Amazônicos. Se não existisse rede, a gente não teria jovens ocupando espaço de decisão e protegendo os ecossistemas costeiros”, destacou Bruna.
Ela também enfatizou a relevância do financiamento direto e flexível para a manutenção do engajamento e do suporte à saúde mental entre os jovens: “A rede também tem sido esse espaço de ‘mano, estamos juntos, não desiste, nós estamos conseguindo apoio, estamos chegando longe’, e isso é fundamental”
A Rede Cuíra é composta por 13 grupos jovens presentes em 14 Reservas Extrativistas (Resex) e uma Área de Proteção Ambiental (APA) no Pará. Tem aproximadamente 60 jovens negros e indígenas, que atuam na defesa dos manguezais e na promoção da sustentabilidade.
Bruna contou que, apesar da pressão para que as novas gerações buscassem oportunidades fora das comunidades, hoje há um esforço para fortalecer a conexão dos jovens com suas raízes. “Sim, o jovem pode ficar lá”, afirmou, ressaltando que a valorização cultural e o protagonismo local são essenciais para a continuidade dos saberes ancestrais e para a defesa do território.
A Casa Sul Global é uma iniciativa liderada pela Rede Comuá e pela Alianza Socioambiental Fondos del Sur, com parcerias estratégicas para a COP30, como a Rede de Fundos Comunitários da Amazônia Brasileira e o movimento #ShiftThePower.
É uma plataforma de articulação política e mobilização coletiva que busca transformar os fluxos de financiamento climático e da biodiversidade, reposicionando o protagonismo do Sul Global e das soluções construídas nos territórios.
A Casa terá sua primeira edição física entre os dias 12 e 20 de novembro, no centro de Belém (PA), com uma programação paralela à COP30. A proposta é incidir nos debates sobre financiamento para clima e natureza, promovendo uma lógica mais justa, descentralizada e enraizada nos saberes, lutas e experiências das comunidades que enfrentam a crise socioambiental.
O Fundo Brasil estará presente na Casa Sul Global, como integrante da Rede Comuá, que reúne organizações independentes de grantmaking que atuam nas áreas de justiça socioambiental, direitos humanos e desenvolvimento comunitário.
Comunicação para o protagonismo do Sul Global
Na sexta-feira (8), o Fundo Brasil voltou ao Museu das Favelas como convidado da South of the Future, plataforma para impulsionar as narrativas do Sul Glob

Mônica Nobrega fala durante painel “Comunicação para fortalecer o protagonismo do Sul Global”. Foto: Mariana Rodrigues/ Acervo Fundo Brasil
al sobre sustentabilidade.
A coordenadora de Comunicação do Fundo Brasil, Mônica Nóbrega, participou do painel “Comunicação para fortalecer o protagonismo do Sul Global”.
Durante a participação, a jornalista ressaltou que “a comunicação é um direito humano fundamental e uma ferramenta essencial para fortalecer o protagonismo das comunidades do Sul Global”. Segundo Mônica, o Fundo Brasil desempenha um papel crucial ao apoiar organizações locais, promovendo sua autonomia e fortalecendo suas capacidades para uma comunicação autônoma, feita a partir de seus territórios.
“Sem recurso, as comunidades não conseguem comunicar o que fazem. E sem comunicar, não conseguem incidir sobre as realidades que as atingem, nem comprovar seu impacto. É um ciclo que dificulta captar mais apoio”.
A representante do Fundo Brasil destacou a importância de reconhecer e valorizar as formas de comunicação produzidas diretamente nos territórios, ressaltando também um desafio crucial para os investimentos na área.
“Para além disso, as formas de comunicação feitas nos territórios precisam ser valorizadas, entendidas como tão relevantes e potentes quanto as formas tradicionais de comunicação que conhecemos.”
No mesmo painel, Andreza Maia, co-fundadora e diretora da Futuros Possíveis, ressaltou que o Sul Global está na vanguarda da inovação, muitas vezes ditando tendências que não são reconhecidas pelo Norte Global. Ela enfatizou a importância de valorizar as próprias culturas e saberes locais, destacando que “a inovação não está só no Vale do Silício” e criticou a baixa valorização de soluções criadas no Brasil por não estarem em inglês.
Já Amyris Fernandez, consultora, palestrante e professora, reforçou a importância do protagonismo local na defesa dos saberes e territórios. “Nós já fazemos e somos protagonistas dos nossos lugares, dos nossos saberes. Não vamos mais deixar que eles sejam tomados por ninguém.”
A Climate Week SP é a Semana do Clima de São Paulo, que reúne organizações da sociedade civil, lideranças comunitárias, representantes de governos, empresas e especialistas para debater soluções e estratégias de enfrentamento à crise climática.
A programação se espalhou por diversos pontos da cidade, incluindo painéis, oficinas, exposições e encontros que discutem temas como justiça climática, financiamento, comunicação, inovação e preservação ambiental, sempre com foco na construção de respostas colaborativas e inclusivas para os desafios socioambientais.