A equipe do Fundo Brasil fez, na primeira semana de março, visitas de monitoramento a quatro grupos apoiados em Pernambuco. O acompanhamento técnico e estratégico é parte do suporte oferecido pela fundação aos projetos selecionados nos editais e linhas especiais de apoio.
As visitas de monitoramento no próprio território onde o projeto se realiza têm papel estratégico de fortalecer as iniciativas apoiadas e de aprofundar o acompanhamento permanente que o Fundo Brasil oferece aos grupos, coletivos, redes e organizações.
Os projetos visitados pela assessora de Projetos Adriana Guimarães e a coordenadora de Comunicação Mônica Nobrega foram selecionados no Edital Geral 2019 – 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e no edital específico Combatendo o Trabalho Infantil na Indústria da Moda.
Indústria da moda. No município de Riacho das Almas, a equipe do Fundo Brasil se reuniu com José Humberto, representante da Avante Educação e Mobilização Social, organização proponente do Prote-Já – fomento à prevenção e erradicação do trabalho infantil, e um grupo de 14 moradores que participaram da iniciativa. O projeto tem o objetivo de construir um diagnóstico participativo e proporcionar formação e articulação de uma rede de atores da sociedade civil para atuar em prevenção e combate ao trabalho infantil nas confecções do município.
Agentes de saúde, mobilizadoras sociais, assistentes sociais e estudantes que fazem estágios na estrutura municipal de assistência social relataram as dificuldades encontradas no processo de conscientizar a população local para os danos que o trabalho infantil acarreta ao desenvolvimento de crianças e jovens. “Para a família, é melhor trabalhar na oficina do que ficar na rua fazendo besteira”, disse uma assistente social que participou da reunião. Uma agente de saúde do distrito rural de Trapiá contou que os adolescentes de 14 a 16 anos não querem ingressar no ensino médio. “Preferem trabalhar para comprar moto e celular”, disse.
A motocicleta é o grande desejo de consumo dos jovens da região, contaram os presentes.
O município tem baixos índices de escolaridade, renda média de meio salário mínimo e alto índice de informalidade no trabalho.
As pessoas presentes destacaram, como resultado benéfico do projeto, o diagnóstico sobre trabalho infantil no município e os encontros de formação. O desafio, relataram, é dar continuidade a ações de combate ao trabalho infantil em um cenário de poder público local e atores da sociedade civil pouco articulados.
No Polo Têxtil do Agreste Pernambucano, o Instituto UESCC (União dos Estudantes de Santa Cruz do Capibaribe) apresentou à equipe do Fundo Brasil mais detalhes do projeto Trabalho decente e indústria responsável: por uma moda consciente e uma indústria responsável. O proposta é focada tanto em incidência política sobre o poder público municipal, em busca da garantia de direitos fundamentais das crianças e adolescentes, quanto em formação para os jovens acessarem o mercado de trabalho de forma responsável, sem violações de seus direitos.
Neste contexto, há ações de formação – oficinas sobre ética no mercado de trabalho, comunicação, autoestima – e acompanhamento de jovens de comunidades desassistidas, que são justamente os mais afetados pelo trabalho infantil nas confecções e oficinas caseiras do município.”As ações de conscientização precisam ser amplas e contínuas”, disse Virgínia Vasconcelos, que coordena o projeto.
Edital geral. Duas iniciativas apoiadas no Edital Geral 2019 – 70 Anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos foram monitoradas em Recife.
A equipe do Fundo Brasil participou de encontro com sete liderança de grupos de defesa dos direitos da população LGBTI+ em municípios pernambucanos. São coletivos locais que compõem o Movimento LGBT Leões do Norte, de âmbito estadual.
O projeto selecionado, Tecer, resistir e enfrentar as LGBTfobias no interior de Pernambuco foi inscrito pelo grupo Sete Cores no Edital Geral 2019. Um dia depois do anúncio da lista de selecionados pelo Fundo Brasil, em junho de 2019, uma das lideranças do grupo, Sandro Cipriano, foi encontrado morto em ação criminosa LGBTI+fóbica.
Devido à tragédia, a execução do projeto foi encampada pelo Leões do Norte.
Foram realizados encontros em municípios para fortalecimentos de grupos LGBTI+, incidência política que resultou na aprovação do projeto de lei para colocar a Semana da Diversidade no calendário oficial de Petrolina, a consolidação da Associação LGBT da Mata Sul de Pernambuco e um seminário que contou com participantes de 80 municípios. “O impacto do apoio do Fundo Brasil é muito concreto e muito presente”, disse o professor Rildo Veras, umas das lideranças presentes. “E os frutos disso a gente colhe a longo prazo. O apoio é um importante reconhecimento à seriedade do nosso trabalho”, completou.
Jovens poetas que se dedicam ao slam inscreveram o projeto Resistência poética – slam das minas do Nordeste. O festival ocorreu de 14 a 16 de novembro na Livroteca Brincante, no bairro periférico do Pina, com participação de mulheres poetas, principalmente negras, de 7 estados nordestinos.
Além das batalhas de slam, o festival teve oficinas de rima e outras construções artísticas e rodas de conversa sob as perspectivas do enfrentamento ao racismo e da promoção dos direitos das mulheres. “Vejo que a gente mexeu com a cena da poesia em Pernambuco. Depois do slam, as manas começaram a publicar livros, a se entender como artistas”, disse a slammer Cris Andrade.
“Aconteceu um empoderamento muito massa, de a gente perceber o valor do trabalho da gente. Foi muito importante poder encontrar e trocar com mulheres pretas de favela de todo o Nordeste”, disse outra das responsáveis pelo projeto, Amanda Timóteo.