A Pastoral Carcerária Nacional divulgou uma carta em homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns, o arcebispo emérito de São Paulo. Dom Paulo morreu na quarta-feira, dia 14, aos 95 anos, vítima de problemas pulmonares.
Veja a despedida da Pastoral ao religioso que ficou conhecido como um grande defensor dos direitos humanos:
Dom Paulo: amigo das/os pobres, amigo das/os presos, profeta da Esperança!
“De Esperança em Esperança. Sempre na Esperança!”. Com a espiritualidade da vida plena para todas e todos e invariavelmente ao lado do povo, Dom Paulo Evaristo Arns confirmou a caminhada e o trabalho pastoral como um permanente serviço em favor da justiça social e da libertação das pessoas marginalizadas e massacradas por todas as formas de exploração social, política e econômica. Mesmo frente às adversidades e oposições à efetivação da vida digna do povo empobrecido, Dom Paulo sempre nos exortou a gritar, a anunciar e a construir comunitariamente a Esperança.
“Mas, será que Dom Paulo vai embora mesmo?” “Há como despedir-se de Dom Paulo?”. Repetimos hoje essas duas frases escritas, há quase 20 anos atrás, em carta da Pastoral Carcerária enviada a Dom Paulo quando ele tornava-se arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo. O que era um imperativo naquele momento continua sendo agora, na páscoa de Dom Paulo: “O melhor jeito de homenagear Dom Paulo (…) é que imitemos e continuemos vivendo o seu amor para com todos os povos e todas as pessoas, que sigamos o seu exemplo de preocupação serena com a Igreja, com o País, com os Pobres, com os que estão sendo excluídos cada vez mais por esta sociedade neoliberal”.
Nós, da Pastoral Carcerária, frente ao encarceramento em massa que amontoa mais de 620 mil irmãs e irmãos nas torturantes e torturadoras cadeias brasileiras, gritamos, anunciamos e buscamos construir comunitariamente a Esperança e o sonho de Deus, “um mundo sem prisões!”. Dom Paulo foi e é referência dessa caminhada pastoral e de tantos agentes de pastoral, mulheres e homens que, de esperança em esperança, caminham junto ao povo edificando o advento de uma vida e uma sociedade novas. Dizer “obrigado” a Dom Paulo é realizar um trabalho pastoral profético, libertador e transformador das estruturas sociais; é ser amigo das pessoas pobres e presas. E nunca deixar que a história de busca pelo Reino e pela Vida seja esquecida. Assim, reproduzimos a carta que enviamos a Dom Paulo no final dos anos 1990:
Não Há Como Despedir-se de Dom Paulo!
[carta direcionada a Dom Paulo em 1998, quando ele se tornou arcebispo emérito de São Paulo]
Chegou a hora de Dom Paulo passar a animação e coordenação da Arquidiocese a outro Arcebispo, Dom Cláudio. Mas, será que Dom Paulo vai embora mesmo?
Para os 20.000 presos da capital [paulista em 1998], ele não vai embora, não. E para nós também, membros da Pastoral Carcerária da Arquidiocese, ele não vai embora, não. Dom Paulo vai mudar de função e de casa, sim, enquanto Dom Cláudio, mais moço e com mais saúde, assume a frente desta amada Arquidiocese de São Paulo. Mas Dom Paulo ficará conosco. Ele ficará, acima de tudo, em nossos corações e vidas! Quantas e tantas vezes Dom Paulo nos exortou, nos orientou em momentos de graves crises nas prisões e nos ajudou a salvar muitas e muitas vidas!
O melhor lugar para se guardar alguém amado e muito estimado, é no coração da gente. Dom Paulo já tem garantido o seu lugar em nossos corações. O melhor jeito de homenagear Dom Paulo — e ele e Nosso Senhor também concordariam com isso — é que imitemos e continuemos vivendo o seu amor para com todos os povos e todas as pessoas, que sigamos o seu exemplo de preocupação serena com a Igreja, com o País, com os Pobres, com os que estão sendo excluídos cada vez mais desta sociedade neoliberal. Que vivamos os seus valores: a Vida do Povo, uma sociedade sem tortura das pessoas, com ética na coisa pública, e com emprego, moradia, saúde e educação para Todos!
Pois é. Uma vez, chamaram Dom Paulo de “amigo dos presos” pensando que, com isso, conseguiriam atingi-lo e machucá-lo. Sabem que ele fez? Pegou e bradou em voz forte: “Sou mesmo! Sou amigo dos presos, graças a Deus! Porque Jesus era um preso. Porque Jesus passou por tudo isso que eles passam — humilhação, torturas, todo tipo de vexame — e Jesus saiu vitorioso… Jesus venceu… Jesus é o preso que deu certo! Como todos os nossos presos de hoje podem dar certo e vão dar certo!”.
******
Dom Paulo, vai com Deus, e muito obrigado! O Senhor está conosco… em nossos corações e em nossa vida e apostolado! Que nós façamos com a nossa vida, o que o Senhor fez com a tua… gastá-la a serviço deste sofrido e amado Povo de Deus! Que todos tenham a Vida e a Liberdade!