Entre os dias 22 e 24 de março, o Fundo Brasil de Direitos Humanos realizou a segunda etapa do Encontro de Projetos com organizações, grupos e coletivos, que têm apoio ativo, para trocar experiências e pensar sobre como potencializar o trabalho em conjunto.
Mais de 88 ativistas, das cinco regiões do país, estiveram em São Paulo, capital, para o intercâmbio. Na programação, debates, análise de conjuntura, oficinas e as estratégias para o fortalecimento das ações no campo de defesa de direitos humanos. Neste mês de março, o encontro foi dividido em duas etapas para melhor atender aos grupos convidados. A primeira etapa se deu entre os dias 1° e 3 de março.
“Fizemos essa divisão de encontros porque, com muita alegria, a gente está cada vez maior e oferecendo apoio a mais grupos. E, por isso, não tem sido possível reunir todos em um único encontro”, explicou Allyne Andrade, superintendente adjunta do Fundo Brasil, durante o coquetel de abertura.
Participaram do encontro grupos e coletivos apoiados nos editais: Defensoras/es de direitos humanos: fortalecendo capacidades para proteção e segurança integralMobilização em Defesa dos Espaços Cívicos e da DemocraciaFortalecendo Trabalhadores Informais na Luta por Direitos, e o Apoio Emergencial – SOS Amazônia.
Edital para apoio à população LGBTQIA+
Na cerimônia também foi lançado o edital LGBTQIA+ Defendendo Direitos 2023, que tem como objetivo apoiar a sociedade civil organizada na luta pela garantia dos direitos fundamentais da população LGBTQIA+, no enfrentamento de violências diversas, inclusive institucional.
“Este é o segundo edital que o Fundo Brasil faz focado em defesa de direitos de pessoas LGBTQIAP+. A gente já apoiava vários grupos, mas não tinha um edital específico. O primeiro foi em 2020 e o segundo agora. A gente sabe que a violência contra a população LGBTQIA+ tem crescido”, ressaltou Allyne Andrade. “O Brasil permanece pelo 14º ano consecutivo como o lugar mais perigoso para pessoas transexuais. E a gente tem uma sub-representação política e acesso escasso à saúde, trabalho, renda e moradia para pessoas LGBTQIA. E, com esse edital, a gente pretende viabilizar a luta dessas pessoas”.
Serão apoiados pelo menos 20 projetos, com até R$ 40 mil reais cada, totalizando R$ 800.000,00 em doações. O período de inscrições do edital LGBTQIA+ Defendendo Direitos 2023. Leia o edital completo aqui.
Análise de conjuntura
A análise de conjunta é uma estratégia necessária para as organizações avançarem no campo dos direitos humanos e entenderem como os acontecimentos atuais impactam em suas vidas e rotinas. Por isso, o segundo dia de evento foi dedicado a essa leitura sobre o momento político, econômico e social atual do país.
Como no primeiro encontro, Lúcia Xavier, coordenadora geral da ONG Criola, mediou os debates entre os grupos divididos que dialogaram sobre os caminhos e os desafios para reconstrução de direitos.
“As ideias que vocês trouxeram aqui revelam que há uma capacidade crítica, por parte das organizações e dos coletivos, em pensar saídas políticas para a nossa sociedade. Olhando para cada um de nós como parte do processo e não como alguém, que está tão fora dele, que precisa ser incluído. Somos marcados pelos territórios, pelas nossas experiências, pelas nossas práticas, mas queremos ser marcados pela nossa humanidade: como somos, como pensamos, como queremos participar e contribuir nesse processo de Brasil que a gente quer implementar”, enfatizou Lúcia.
“Nós não somos defensores de direitos humanos, porque construímos esses direitos para nós. Nós somos defensores porque vemos a oportunidade de um impacto global com direitos que abarquem cada uma das pessoas, que sejam suficientes pra todos”, destacou a coordenadora geral de Criola”.
O terceiro dia de encontro foi tomado por oficinas elaboradas a partir da escuta ativa com os grupos, que apontam os principais desafios e as demandas para o desenvolvimento do trabalho nas organizações.
“Foi uma experiência indescritível. Não tinha visto antes tantos ativistas de direitos humanos reunidos. As oficinas foram importantes, porque geralmente não temos contato com esse tipo de provocação em relação à comunicação, ao desenvolvimento institucional e à captação de recursos. Então foi uma sacada muito boa do Fundo Brasil em trazer essas oficinas para capacitar ainda mais os grupos que estão aqui”, disse João Gabriel da Silva Santos, da Associação Baiana De Travestis, Transexuais e Transgêneros em Ação – Atração.
Rosimere Maria Vieira Teles, da Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas, diz que o encontro com defensores de todo o Brasil lhe traz um novo fôlego para a luta diária nos territórios.
“Quando se fala de fortalecimento das pessoas que defendem direitos humanos, a gente fala desse encontro. É esse tipo de ação que nos mantém com mais força, porque nos traz o intercâmbio de conhecimento. Conseguimos ouvir territórios mais diversos. Estar aqui foi um grande aprendizado, até para entender o que podemos melhorar para ter ações mais efetivas. Eu agradeço ao Fundo Brasil por essa oportunidade”.
Veja como foi o Encontro de Projetos: