Realizado com o objetivo de incentivar o uso de imagens para mostrar a importância dos direitos humanos, o Prêmio Fotográfico “2018 com todos os direitos” mobilizou grupos, organizações e coletivos apoiados pelo Fundo Brasil em todo o país.
O Prêmio Fotográfico é realizado pelo Fundo Brasil em parceria com a Fundação Tide Setubal.
Setenta fotos foram inscritas e passaram por uma seleção interna, realizada com a participação da consultora Ana Maria Wilheim. Após a seleção interna, as imagens foram analisadas por uma comissão julgadora formada pela fotógrafa Alice Vergueiro e pelos fotógrafos Otavio Valle e João Correia.
A comissão julgadora escolheu as dez fotos que esta semana são submetidas a uma votação popular, realizada por meio do Facebook.
Para participar da votação, clique aqui.
A seguir, conheça as dez fotos finalistas e as histórias sobre as imagens:
Articulação do Centro Antigo de Salvador – Bahia
A imagem enviada para o concurso pela Articulação do Centro Antigo de Salvador – Bahia é do fotógrafo Matheus Tanajura e mostra a fachada de um casarão histórico ocupado por famílias do MSTB-BA e revela a vida pulsante no centro histórico da cidade, mesmo nos lugares aparentemente deteriorados.
As moradoras e os moradores dinamizam a vida cotidiana e, por meio de pequenas reformas, mantêm os casarões.
“As imagens narram não apenas o processo de abandono do Centro Antigo de Salvador pelos poderes públicos e proprietários de imóveis, mas contam sobre resistência, potência e criatividade de táticas coletivas de moradores e trabalhadores pela efetivação do direito à cidade, à moradia e à existência”, afirma a organização.
A foto tem vários significados: luta pela permanência, moradia popular digna, não criminalização das ocupações, fim do genocídio ao povo negro e do racismo institucional, pertencimento ao território, valorização da ancestralidade africana e indígena, visibilidade das narrativas, relevância dos saberes populares tradicionais.
Cedeca – Ceará
A foto do Cedeca – Ceará, da fotógrafa Lucianna Maria da Silveira Ferreira, registra um dos momentos da V Caminhada pela Paz do Grande Bom Jardim, que teve como pauta principal a reafirmação de direitos. Bom Jardim é um bairro localizado na periferia de Fortaleza, conhecido por ter moradores engajados na luta por direitos e para não terem as vozes silenciadas.
Descontentes com os problemas do bairro e com a negligência do poder público, essas moradoras e moradores começaram a organizar a Caminhada pela Paz em 2014.
Desde então, a caminhada reúne pessoas de diversas idades para se manifestar e denunciar a invisibilização sofrida pelo bairro, noticiado na imprensa local principalmente pelo viés da violência.
“Em 2018, a caminhada buscou denunciar o alto índice de homicídios de adolescentes da região do Bom Jardim por conflitos territoriais violentos e agravamento do extermínio das juventudes pobres e negras que moram nas periferias da cidade. Outro tema em debate foi a presença do Estado nas comunidades apenas através da extensiva violência policial”, informa o Cedeca.
Também foram pautados temas como o direito à cidade, a luta das mulheres, crianças e juventudes, coletivos, movimentos e escolas, comunidade LGBT e comunidades religiosas.
Ceagro – Paraná
A foto do Ceagro – Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação Agroecologia, do fotógrafo Wellington Lenon Ferreira, é chamada pela organização de Casa de Papel. Retrata, de acordo com o grupo, mais de 100 anos de exploração e mais de 63 mil hectares de florestas nativas praticamente extintas.
“Os interesses nacionais devem estar no bem-estar da sua população, de seus recursos naturais e no desenvolvimento econômico. No lugar do deserto verde e da monocultura de papel, hoje centenas de famílias do Acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu/PR, buscam o sonhado pedaço de chão, produzindo alimentos para viver e alimentar a população do campo e da cidade”, descreve o Ceagro.
Everton Dantas – Rio Grande do Norte
O flagrante do jornalista Everton Dantas mostra o momento exato no qual os reeducando de duas facções rivais no Presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, entram em guerra aberta dentro da unidade. O conflito, conta Everton, foi transmitido ao vivo pela internet.
“A imagem dá bem a ideia de como, durante a rebelião, o poder público se omitiu para impedir que isso acontecesse”, afirma o jornalista.
Fórum Grita Baixada
A foto da fotógrafa Fernanda Nunes, enviada pelo Fórum Grita Baixada, revela um detalhe da preparação de ato realizado em Japeri, na Baixada Fluminense, quando o assassinato do adolescente Fernando completou um ano. Ele tinha 15 anos e, segundo a organização, foi morto por policiais do Bope.
A manifestação foi realizada no âmbito do projeto “Direito à Memória e à Justiça Racial”, desenvolvido pelo Fórum Grita Baixada.
Jornal A Sirene
A foto de Lucas de Godoy, do jornal A Sirene, revela a história de Keila e sua avó Doca. É uma das imagens realizadas em 2016 para um ensaio do jornal chamado “O que ficou com você”?
Por não terem sido avisados do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, os moradores do distrito de Bento Rodrigues não tiveram tempo de impedir que seus objetos pessoais e lembranças fossem levados pela lama de rejeitos. Keila conta que a avó é o bem mais precioso que ela foi capaz de salvar.
Articulação dos Atingidos pela Vale/Justiça nos Trilhos
O fotógrafo Mikaell Carvalho, da Articulação dos Atingidos pela Vale/Justiça nos Trilhos, enviou uma foto que mostra ritual indígena conhecido como festa da Menina Moça, que acontece quando a jovem menstrua pela primeira e entra na puberdade. O ritual é feito para celebrar essa passagem. É um registro da cultura indígena do povo Guajajara, da aldeia Piçarra Preta, da Terra Indígena Rio Pindaré, de Bom Jardim (MA), feita em no dia 22 de setembro de 2018. O ritual dura dois dias seguidos.
Marco Zero Conteúdo
A foto de Inês Campelo, do Marco Zero Conteúdo, conta a história de duas “Recifes”, próximas e antagônicas no mesmo espaço. Unidas pela geografia e cercadas pelo Oceano Atlântico e pelos rios Capibaribe e Beberibe, as duas dividem a mesma ilha e a mesma origem: ambas nasceram a partir do porto. Uma, chamada de Recife Antigo, é cartão postal da cidade. Tem museus, lojas, restaurantes badalados, escritórios sofisticados, serviços públicos funcionando quase que perfeitamente e muita gente. Gente de todos os lugares, mas quase ninguém da vizinha “outra Recife”. É que as famílias da Comunidade do Pilar esperam, cada vez mais impacientes, pela construção de apartamentos e mais uma série de equipamentos públicos, prometidos para 2012 e sem previsão para a conclusão. As duas “Recifes” são coladas fisicamente. Nas “fronteiras”, quase misturadas. Isso porque, a “rica” avança querendo engolir a “pobre”. Apesar da proximidade as duas não se comunicam. Não interagem. Um simbólico portão invisível separa os dois lugares.
Assessoria Popular Maria Felipa
A imagem registrada pelo fotógrafo Daniel Pitanga, da Assessoria Popular Maria Felipa, mostra dona Teresa, uma das personagens mais importantes na luta pela preservação dos direitos das pessoas em privação de liberdade em Minas Gerais.
Ela é uma das protagonistas e interlocutoras fundamentais no projeto “Solta a Minha Mãe”, conduzido pela Assessoria Popular Maria Felipa, projeto que tem como objetivo principal o desencarceramento de mulheres por meio da litigância estratégica.
É mulher negra, periférica, cozinheira, artesã, mãe de cinco filhos, avó de nove netos, presidenta do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, militante da luta antiprisional e abolicionista, idealizadora da ação Flores no Cárcere, apoiadora da APAC Feminina de Belo Horizonte, conselheira do Conselho Estadual de Direitos Humanos, vice presidente do Conselho da Comunidade na Execução Penal da Comarca de Ribeirão das Neves e vice presidente do Conselho da Comunidade na Execução Penal da Comarca de Belo Horizonte.
A foto foi feita em uma das reuniões mensais de parentes de aprisionados, realizada em março de 2018, na Casa de Direitos Humanos em Belo Horizonte.
Associação Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú
Na imagem do fotógrafo: Sília Moan, da Associação Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, aparece um coletivo de mulheres organizadas em rede e que desenvolvem diversas atividades produtivas, como o artesanato com peças a partir do barro, a produção de alimentos agroecológicos e resgate de plantas nativas, o processamento de geleias e polpas de frutas nativas da região.